quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eco


Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava de mais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra.
Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão que estivese se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa, conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras:

- Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.

A ninfa viu Narciso, um belo jovem, que perseguia a caça na montanha. Apaixonou-se por ele e seguiu-lhe os passos. Quanto desejava dirigir-lhe a palavra, dizer-lhe frases gentis e conquistar-lhe o afeto! Isso estava fora de seu poder, contudo. Esperou, com impaciência, que ele falasse primeiro, a fim de que pudesse responder. Certo dia, o jovem, tendo se separado dos companheiros, gritou bem alto:

- Há alguém aqui?
- Aqui - respondeu Eco.

Narciso olhou em torno e, não vendo ninguém, gritou:

- Vem!
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim? - perguntou Narciso

Eco respondeu com a mesma pergunta.

- Vamos nos juntar - disse o jovem.

A donzela repetiu, com todo o ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta a se lançar em seus braços.

- Afasta-te! - exclamou o jovem, recuando. - Prefiro morrer a te deixar possuir-me.
- Possuir-me - disse Eco.

Mas foi tudo em vão. Narciso fugiu e ela foi esconder sua vergonha no
recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo definhou, até que as carnes desapareceram inteiramente. Os ossos transformaram-se em rochedos e nada mais dela restou além da voz. E, assim, ela ainda continua disposta a responder a quem quer que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra.



Postagem em especial para meu amigo Ricardo, leitor de Portugal. Amo você!
:)

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